O valor de mercado da FMG, na sexta-feira (28) era de 58 bilhões de dólares australianos, ou R$ 232 bilhões. Para vocês terem ideia do que representa essa cifra, a Vale tinha capitalização de R$ 322 bilhões no mesmo dia.
Uma das consequências da rápida valorização da FMG é que a fortuna de Andy deu um salto neste ano e ultrapassou US$ 15 bilhões neste mês. Nada mal para quem, em março de 2016, viu suas economias minguarem para US$ 1,6 bilhão, época em que a ação da FMG não chegava a 2 dólares australianos. Agora, Gina Rinehart, a mais rica australiana, com US$ 16,2 bilhões, já pode ver Andrew no retrovisor.
Poucos vão se lembrar, mas em 2015 quando a fortuna de Andrew encolhia rapidamente, ele esperneou o que pode contra as grandes mineradoras, em especial a BHP e a Rio Tinto, que têm grandes operações de ferro na Austrália.
O argumento na época era que o excesso de oferta dessas duas multinacionais da mineração estava corroendo o preço do minério e dando um grande prejuízo ao governa australiano. Em poucas palavras, o liberal Andy pedia uma intervenção estatal para regular esse suposto desequilíbrio no balanço de oferta e demanda.
Ele chegou a pedir uma CPI local para averiguar isso e, assim, se juntou ao coro movido por Lourenço Gonçalves que, polidamente, dizia que o mercado transoceânico de minério de ferro estava "amaldiçoado" e que as majors estavam "basicamente aterrorizando o mercado".
Em uma coisa, o diretor-executivo da Cleveland-Cliffs, que há quase dois anos não nos brinda com suas impactantes frases, não poderia estar mais errado. Na época, ele disse que mal podia "esperar para sair do mercado transoceânico e deixar os australianos tomarem conta desse péssimo negócio".
Deu nisso. No ano seguinte, Gonçalves vendeu suas minas esgotadas naquele país e a Vale deixou de fazer um meganegócio com a FMG, uma grande sacada do ex-diretor da Vale em que parte do minério de Carajás seria usado para enriquecer o bem localizado minério da FMG.
Se esse negócio tivesse sido feito, Twiggy teria engordado sua abastança e já seria o cara mais endinheirado do Reino de Oz. E os acionistas da Vale ganhariam um bom naco dos quase US$ 3,6 bilhões de dividendos distribuídos pela Fortescue no ano fiscal australiano terminado em junho.
E por falar em dividendos, o fundador da FMG embolsou nada menos do que US$ 1,2 bilhão em um único dia, uma vez que a política da mineradora é distribuir até 80% do lucro líquido.
No mundo de verdade, a FMG embarcou 178 milhões de toneladas de minério com 58% Fe e ganhou US$ 4,8 bilhões, depois de pagar os impostos. Já a Vale, embarcou 294 Mt de minério e pelotas para lucrar US$ 1,33 bilhão, no mesmo período. Para normalizar essa equação, só exportando o sistema jurídico brasileiro para Oz.
Acredito que tudo pode mudar quando o Brasil registrar alguns marcos, entre eles o retorno da Samarco ao mercado mundial de pelotas. E o fim da birra judicial contra as barragens, que tem transformado algumas minas em operações intermitentes. Lembrando aqui que não existe barragem insegura, o que existe é barragem sem manutenção ou mal construída, como diz o padrão internacional divulgado no mês passado pela ICMM.
Voltando a Andy, além dessa incoerência ora liberal, ora estatal, dizem na Austrália que ele é capaz de "vender geladeira para esquimó". Esse elogio já foi feito no Brasil a Eike Batista, que tem uma condenação de 30 anos nas costas e duas passagens pela cadeia. Contudo, o principal negócio do australiano, que comprou direitos minerários rejeitados pela BHP e Rio Tinto, deu certo. Já o projeto Minas-Rio, criado por Eike, deu certo com a Anglo American.
As comparações entre Eike e Andy terminam aí, afinal o primeiro vai gastar tudo o que ganhou em vida, enquanto Twiggy, o filantropo, afirma que vai doar tudo o que ganhar em vida.