Há duas semanas, a Lithium Ionic fez mais um acordo para abocanhar direitos minerários de minério de lítio e espodumênio no estado mineiro. Na semana passada, a também canadense Xplore comprou mais direitos de lítio no Rio Grando do Norte, além de áreas e projetos que detém em Minas Gerais.
Além dessas duas temos a Latin Resources com projetos em Salinas (MG) e, naturalmente, a Sigma Lithium que promete entrar em produção no ano que vem e viu suas ações na Nasdaq saírem de 10, no lançamento neste, para 30 dólares canadenses neste mês levando o valor de mercado da mineradora para 4,1 bilhão, o equivalente a R$ 15,5 bilhões.
Ainda em Minas Gerais, temos a St. Anthony, a Atlas Lithium e algumas outras estrangeiras, sem falar na Companhia Brasileira de Lítio (CBL). Essa empresa comprou de volta os 33% de participação que tinha vendido para o governo do estado de Minas Gerais em 2016. E aqui paira uma grande dúvida: para que o governo estadual precisava se desfazer de um ativo estratégico quando poderia usá-lo para alavancar a cadeia produtiva de lítio no estado?
O governo anterior comprou a participação por R$ 33 milhões e o atual a vendeu por R$ 208 milhões. Havia um projeto para essa participação atrelado a outro empreendimento, a construção da Oxis Energy do Brasil, em Juiz de Fora (MG), que pediu falência em 2021, resultado da falência da britânica Oxis Energy, especializada em tecnologia de baterias de lítio-enxofre (LiS) para aeronaves e sistemas de propulsão. Na época, a firma inglesa disse que não conseguiu investidores para ir adiante.
Publiquei uma dúzia de artigos especificamente sobre lítio nos últimos dez anos. Bem pouco, considerando os quase 500 artigos publicados. O primeiro deles, de 2016, falava da necessidade de uma política específica para a mineração e beneficiamento do metal alcalino no Brasil, tem um dos melhores títulos que já bolei: Lítio 20 Mg.
A brincadeira como medicamento tarja preta para depressão tinha um motivo: governos estaduais e federal ignoravam o potencial do mercado de lítio, com exceção de Minas que tinha projetos para esse metal e o grafeno. Isso se desfez em uma troca de governo. Mas não precisa ser assim.
Nada menos do que 492 de 869 processos de litígio (de 2010 até 2022) estão em Minas Gerais, em um distante segundo lugar está a Bahia, com 191 processos. Por que escolhi começar em 2010? Porque esse foi o ano da oferta inicial de ações (IPO) da Tesla, que vale hoje US$ 470 bilhões (chegou a valer 800, mas essa é outra história), o suficiente para, em teoria, comprar todos os seus concorrentes, incluindo Ford, VW, GM, Nissan, Honda e as chinesas NIO, BYD e outras. Apesar de vender uma fração dos veículos vendidos pelos concorrentes, foi a Tesla que criou esse mercado de baterias que absorve hoje pouco mais da metade do lítio produzido no mundo.
Apesar de ter dado lucro pela primeira vez em 2013, uma década depois da sua fundação. Observem aqui que Elon "Twit" Musk somente entrou para o conselho da Tesla em 2004, quando possivelmente viu o que muitos somente viram em 2010, a tendência de eletrificação do transporte. Tudo bem que Zema é um empresário bem-sucedido, mas lhe falta uma fração da visão de Musk.
Entendo que o dinheiro amealhado com a venda da participação na CBL pode muito bem ser usado para alavancar a mineração (na forma de pesquisa mineral, laboratórios, formação de trabalhadores especializados, participação direta) e beneficiamento de lítio no estado, seja com a criação de uma empresa específica ou um grupo de trabalho para fazer isso de forma organizada e sustentada. Não faltam bons profissionais no governo para tocarem esse projeto.