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OPINIÃO: Agora não tem jeito, a solução está na eficiência

Com a drástica redução do preço de muitas commodities minerais, a redução de custos se tornou prioridade no setor de mineração. Neste artigo exclusivo, o consultor Daniel Schnaider dá algumas sugestões de como trabalhar nesse ambiente cada vez mais volátil.

OPINIÃO: Agora não tem jeito, a solução está na eficiência

O custo operacional no setor de mineração vem crescendo acentuadamente. Esse cenário é agravado pelo custo do frete para a China, o principal mercado consumidor do minério de ferro brasileiro. Esse encargo adicional torna o produto menos competitivo frente a outros mercados como, por exemplo, o da Austrália, outro forte competidor. A estratégia de se apoiar principalmente no crescimento do mercado já não é mais sustentável para as empresas.

Um relatório da Business Monitor International prevê uma queda nas taxas de crescimento do setor nos próximos cinco anos. Isso ocorre devido a uma diminuição significativa da demanda mundial de minério de ferro, que é responsável por 85% das exportações do setor no país. Em suma, o preço das commodities e o nível de demanda não dependem mais de ações administrativas das empresas; o mercado futuro está cada vez mais imprevisível. Diferente de outros nichos, no setor de mineração não se pode atribuir um valor adicional pela reputação da marca, como faz a Apple, por exemplo, ou influenciar a demanda com promoções e descontos, como fazem as grandes lojas de varejo.

Outra dificuldade está no custo de energia para as indústrias, que tinha sido reprimido em 2014, mas que já teve aumento anunciado para 2015. Segundo estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) o Brasil ocupa o 8° lugar no ranking dos países com energia para indústria mais cara no mundo. Para agravar a situação, os encargos trabalhistas e a inflação vêm subindo de longa data. Diante deste cenário, os custos de manutenção e logística estão cada vez mais caros.

O grande desafio das mineradoras é criar uma estrutura que permita se adaptar a essas fortes mudanças na demanda de seus produtos e nos custos dos serviços em um ambiente macroeconômico volátil. A dificuldade que sofrem é que, se por um lado, são especialistas na operação, não se pode dizer o mesmo do conhecimento em eficiência administrativa.

As melhorias em corte do custo, por exemplo, são pontuais, mas não fazem parte de um sistema contínuo. Desta forma, temos apenas um efeito sintomático, que não trata da causa e a empresa está sempre atrasada em suas atitudes em relação ao novo contexto do mercado.

Muitas empresas vêm de longos períodos de exuberância, o que resultou na cultura do amanhã será melhor do que hoje”. As coisas não são bem assim. A incerteza nunca é bem vinda pelos empresários e a cultura no setor de mineração brasileira terá que se adaptar. Muitas empresas até fazem projetos de redução de custos, mas sabemos que de 70% a 80% dos projetos tendem a fracassar.

Então por que os projetos de melhoria de eficiência no mercado de mineração fracassam? Em primeiro lugar: a disciplina é essencial no processo de melhoria de eficiência. O que vemos nas empresas é que quando os indicadores estão um pouco melhores, se tira o pé do acelerador.

Além disso, as reduções de custos feitas são as consideradas fáceis, principalmente aquelas que envolvem o back-office. Ninguém quer comprar a briga” de lidar com o operacional. A força política destes departamentos é considerável, uma vez que se trata do core-business da empresa. Também vale ressaltar que toda a questão de custo financeiro é de conhecimento exclusivo de um grupo seleto de pessoas, às vezes apenas de um indivíduo e não é debatida amplamente nas demais áreas da empresa.

Por fim, são poucas as empresas que sabem mensurar o resultado dos processos de melhoria de eficiência. A empresa deve separar o custo bom, que a ajuda a se tornar mais produtiva, e do custo ruim, em que o retorno sobre o investimento simplesmente não compensa.

A lição que fica dos erros encontrados nesses projetos é a seguinte: agora não tem jeito, a solução está em melhorar a eficiência!

Daniel Schnaider é consultor de negócios, sócio do SCAI Group. Atua em reestruturação de empresas familiares médias e grandes. Especialista em estratégia, eficiência empresarial, excelência em gestão, tomada de decisão, fundos, fusões e aquisições, reestruturação operacional, novos investimentos, renegociação de dívida e big data.