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Mina Esperta

Ericsson mostra como 5G vai levar a mineração ao futuro e usa mina de ouro no Brasil como exemplo

Mina Esperta

O documento, intitulado "Connected Mining: a guide to smart mining transformation with private cellular technology" (algo como "Mineração Conectada: um guia para a transformação da mineração inteligente com a tecnologia celular privada") aborda a lista crescente de questões da indústria e o impacto que as redes celulares privadas capacitadas para uso da tecnologia 5G podem ter sobre as empresas que estão entrando na chamada Mineração 4.0.

Lembrando aqui que o termo "Mineração 4.0" veio a reboque da "Indústria 4.0", uma expressão que ganhou força em 2015 para mostrar como o setor se beneficia de novas tecnologias como Internet das Coisas (IoT), Analytics, Big Data e outras. E que o "4.0" vem da ideia de que vivemos a quarta revolução industrial, ideia frequentemente atribuída a um conceito desenvolvido pelo alemão Klaus M. Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial e autor do livro "A Quarta Revolução Industrial", de 2016.

Para entender melhor o assunto, sugiro a leitura do artigo "Mining 4.0—the Impact of New Technology from a Work Place Perspective", de pesquisadores da Universidade de Lulea, na Suécia. Isso até parece uma conspiração sueca.

Segundo o relatório da Ericsson, a mineração enfrenta quatro desafios: o de ter operações mais seguras para empregados e comunidades próximas; o da sustentabilidade, isto é, produzir mais gerando menos gases de efeito-estufa e convencer a sociedade a não tirar as licenças e concessões; ter clientes que são também concorrentes, como a Tesla, que está se envolvendo na produção de lítio e níquel; e se desviar de ataques cibernéticos, que vão naturalmente aumentar com a transformação digital e o uso intensivo de tecnologias como IoT e veículos autônomos.

Além dessas premissas, outras são lançadas, como a dificuldade e o custo mais alto de conectar a mineração subterrânea, em relação àquela de céu aberto, mais favorável a essa transformação em movimento. Sem falar que a transmissão de grandes volumes de dados é crítica para esse novo tipo de operação em minas, frequentemente feito em áreas remotas. Daí que concluem que as redes de celulares podem oferecer tudo o que modernas mineradoras querem com baixa latências, ou seja, os dados não demoram a chegar e, no caso de imagens em uma rede 5G, a resolução pode ultrapassar 8K.

Por fim, o relatório traz cinco casos de uso sobre veículos autônomos; monitoramento de condição em tempo real; plataformas de perfuração controladas remotamente; inspeção com veículos aéreos não tripulados (Vant); e controle inteligente de ventilação.

Não vou detalhar os casos aqui. A Ericsson estuda isso há muitos anos (a primeira matéria no NMB sobre isso é de maio de 2015) e desde 2017 avança junto com a consultoria Arthur D. Little e parceiros como a Komatsu e a sueca Epiroc. 

Contudo há um fato relevante: todos os casos estão associados a duas minas de ouro, uma a céu aberto na Argentina, que movimenta 25 milhões de toneladas por ano, e outra, subterrânea, no Brasil, que movimenta 2 milhões de toneladas por ano. O nome das minas não é mencionado, mas sabemos que são poucas as minas de ouro com esse porte no Brasil.

Segundo o documento, "essas duas minas são grandes o suficiente para mostrar os efeitos de todos os casos de uso, a fim de fornecer simulações granulares das principais métricas de mineração".

No caso dos veículos autônomos, a vantagem está na redução de custo e, sobretudo, no segurança. Dados do Departamento de Segurança e Saúde de Minas, do Departamento de Trabalho dos EUA, mostram que acidentes de transporte são responsáveis por até 25% de todas as mortes em mineração.

O monitoramento de equipamentos em tempo real leva à transição da manutenção reativa para a proativa, fazendo com que a manutenção não planejada seja reduzida em até 25%, sem falar em mais ganhos de segurança. Já o uso de perfuratrizes autônomas ou semi-autônomas aumentam a produtividade em 60%, na média. Sem falar na redução do custo de depreciação em 75% e do custo de manutenção, em 25%.

O uso de drones em inspeções levam a reduções no tempo de retorno à operação depois de detonação, em 51%; redução no custo de backfilling, em 28%; e redução no custo de inspeção em taludes, em 21%. No caso, da ventilação inteligente, a redução de custos também é da ordem de 60%, incluindo aqui 20% a menos no consumo de energia. Em breve, lavrar vai sair de graça.

A parte financeira mostra que o ROI, para um investimento de US$ 40 milhões, seria de 207% na mina argentina a céu aberto, e de 256% na mina subterrânea no Brasil, para um investimento de US$ 21 milhões. No primeiro caso, o investimento pesado seria em veículos autônomos, enquanto no segundo seria em veículos e ventilação. Mas, para isso sair da simulação, é preciso ter 5G.

Ano que vem, 2021, é o ano do 5G, pelo menos no hemisfério norte e na Oceania. Aqui uma discussão política non sense (como quase tudo em 2020) ameaça deixar o Brasil no quase 5G, o 4.5G por pelo menos mais um ano. É de conhecimento geral, a intenção do governo federal em interferir no edital que a Anatel vai emitir sobre quem poderá oferecer equipamentos de 5G no país, barrando o principal fornecedor chinês, a Huawei.

A agência nunca fez restrições a essa ou aquela empresa, o que posicionou bem o país, mantendo o mercado aberto, com diversificação de fornecedores e neutralidade tecnológica, e criando uma cadeia de fornecedores locais. E isso vai ser potencializado com o 5G pois a infraestrutura necessária é bem mais, assim como a rede bases e antenas. Quando isso acontecer, 47 milhões de pessoas que ainda vivem sem internet (dados da CGI.br TIC Domicílios 2019) terão acesso à rede mundial.

Mineradoras, cruzem os dedos e torçam por um mercado mais aberto e liberal para terem mais rápido, e a custo menor, serviços de 5G.